10 de dez. de 2011

a montanha

aqui do alto deste prédio vejo a montanha. ouço constante barulho de turbina de aviões. nada pássaros. estou com fome. lá embaixo as coisas parecem ser do meu tamanho, talvez um pouco menores que eu. quero comer essas coisinhas que andam. vejo a meu lado alguém que deve ser como eu - só que muito maior. ele me olha e me dá comida e deixa a TV ligada antes de sair. passa o dia fora. em busca de comida. o que estou fazendo aqui? quando chega está cansado. vejos seus olhos sucumbirem na sala de TV, onde fazemos nossa refeição noturna – juntos. um dia resolvi pular aqui de cima. queria passear eterno por aquela montanha. comer meu alimento vivo, serezinhos. um dia ouvi o chamado: em minhas veias borbulharam sangue. pulei o muro e dei com a cara no chão. depois me ergui – o nariz estava torto, desenho de um novo caminho.

"Bendito o leão comido pelo homem, porque o leão se torna homem! Maldito o homem comido pelo leão, porque esse homem se torna leão!", lembrou-nos Didymos Tau'ma (Tomé (Tomás), o gêmeo)

16 de out. de 2011

Instruções para morrer de medo

Evite ser ousado ou destemido
- é muito perigoso.

Não vá assumir riscos desnecessários
– você irá afastar a tão ansiada felicidade.

Siga as tradições da sua família
– é mais seguro, você tem filhos para sustentar.

Não fale com estranhos
– pode ser perigoso, isso é claro.

Continue sonhando com o príncipe azul
- ele vai chegar.

Mantenha-se seguro!

Viva reativamente!

Apague já todos os arquivos que amarram seu plano mais genuíno -
o mundo é cruel
e já não fale mais do caminho feito de corações.

12 de mai. de 2011

Meu ovo



"Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior."

Clarissa Pinkola

5 de mar. de 2011

A avó (canção do self)

"Rodeada por meus escudos, sou
eu:
Rodeada por meus filhos, sou
eu:
Rodeada pelo vácuo, sou
eu:
Eu sou o vácuo.
Eu sou o útero das recordações.
Eu sou a escuridão que desabrocha.
Eu sou a flor, primeira carne.
Em absoluta treva habito —
Ali vejo a criação multiplicar-se —
Ali, eu sei que começamos e terminamos
Apenas para começar de novo, mais uma vez —
Mais uma vez. Nessa escuridão, estou
Girando, girando rumo a um novo parto:
O de mim mesma — uma avó recém-nascida
Sou eu, sugando luz. Arco-íris
Serpente recobre-me, da cabeça aos pés,
Para que eu viva para todo o sempre, nesta
Forma ou em outra. A pele que ela
Deixa para trás brilha com
A indagação, com a resposta,
Com a promessa:
"Você se lembra de você?"
"Sou sempre mulher."
"Carne é flor, para sempre."
Entro nas trevas, para entrar no nascimento, Para vestir o Arco-íris, para ouvi-la Sibilando
audivelmente, claramente, no meu Ouvido interior: amor.
Estou girando numa espiral, rodopiando, Estou cantando este Cântico da Avó. Estou
lembrando para sempre, aquilo a que Pertencemos."
River Malcolm (retirado do livro Espelhos do Self)